sexta-feira, 28 de agosto de 2009

É hora de dizer "Adeus" ...



Há exatamente um ano atrás, eu escrevi o primeiro post deste blog. Excitada pela chegada num país que eu tanto desejava, assustada pelos grandes desafios que iria enfrentar e ansiosa pra ver o final de tudo, eu escrevia as minhas primeiras impressões sobre o que foi a maior aventura da minha vida até agora.

Através do blog, foi possível dividir impressões, mandar lembranças e mostrar a Índia que vi e vive durante 8 meses para muitas outras pessoas: primeiros amigos e familiares, depois conhecidos, depois até desconhecidos mas sempre pessoas interessadas em saber sobre o que acontecia do outro lado do mundo. ;)

Foi um prazer tê-los como leitores, e agora me aguardem, que mais aventuras virão por aí! ;)
Contato pelo e-mail: coramig@yahoo.com.br !

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Índia em 1 minuto

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Rotina no Brasil X Rotina na Índia



Como seria comparar a rotina de um indiano com a de um brasileiro? Pra começar, os hábitos alimentares distinguem e muito... O horário de acordar e dormir também... as crenças, então! Mas as semelhanças também existem: pegar o ônibus lotado, trabalhar 8horas... vamos ver aonde isso vai dar?

Bom, estando no Brasil, trabalhando num escritório, o dia começa lá pelas 6:30h, 7 horas, afinal, o escritório abre lá pelas 8h. Primeira grande diferença: os indianos são mais dorminhocos já que o expediente só começa às 10h. Ou seja, a hora de acordar é em torno das 8h. O café da manhã aqui é café, pão e uma frutinha... Na Índia varia desde o chai - chá com leite - a chapati e alguma outra coisa salgada. Também aproveitam este horário pra preparar o almoço, que é levado pela própria pessoa ou mais tarde pelos famosos dhabba wallahs (já falei alguma vezes sobre eles por aqui). Sim, gente, a maioria dos indianos come marmita de comidinha feita no dia. Aqui no Brasil acho que a maioria come em refeitórios ou restaurantes, são poucos que levam marmita e se levam, e de comida feita no dia anterior.

Mas voltando ao "acordar", o indiano também tem o hábito de rezar , fazer o pooja, de manhã... Quem não vai ao templo, tem um templinho em casa mesmo pra fazer o pooja matinal.

Hora de ir pro trabalho: bom, os ônibus lotados infelizmente não são exclusividade da Índia! A diferença é que lá, quem vai de carro, vai de motorista (lembrem, transito caótico e mão de obra barata por lá).

Sobre o trabalho não vou entrar em muitos detalhes... mas vale lembrar que lá as mulheres que casam, em geral, páram de trabalhar. Ah! E que o número de trabalhadores por função deve ser maior... acho eu ;) (tem muito indiano, né?)


Bom, e a maneira de trabalhar... acho melhor não comentar muito aqui, afinal, 5 meses (que foi o período que eu realmente trabalhei) foi pouco pra afirmar coisas por aqui... Dá pra dizer que eles são um pouco mais ineficentes que nós sim... ;) E que o que vale é a quantidade e não a qualidade... meu deus, como os indianos curtem ficar horas e horas depois que fecha o expediente pra mostrar serviço... e os sábados que a maioria das empresas trabalha então? Bom, já disse, melhor não comentar!

Hora do almoço! No Brasil, 12 horas já está todo mundo de estômago roncando... Mas na Índia, o estômago não ronca antes das 13:30h! E enquanto nós saímos pra comer, ou em restaurante, ou refeitório, ou vamos até a cozinha esquentar a marmita, os indianos abrem seus potinhos trazidos de casa e comem a comida ali mesmo, na mesa do escritorio! Nem mudam de ambiente! Ah, e esquentar a comida, nao, nem precisa... Assim, o break deles nao passa de uma meia hora, o que vou confessar pra voces, pra mim era dose de aguentar... era como se nem tivesse break! Nos aqui no Brasil temos pelo menos 1 horinha, mudamos de ambiente e talz... isso sim dá pra chamar de pausa!

Assim, com esse mini break, mesmo entrando mais tarde, eles saem do escritorio na mesma hora que nos, que entramos mais cedo: por volta das 18h ...

Aí aquela tranqueira básica no transito, tanto aqui como lá... ai vale tudo: uma passinha no shopping, uma ida ao supermercado, uma reuniao de nao sei o que e a chegada em casa. No Brasil, a gente em geral aproveita pra ir pra academia ou pra fazer outros esportes, vai nos medicos enfim, essa parte varia muito. Ah, academia pros indianos?? Nao, nao, la isso nao é muito comum.

Mas enquanto aqui a janta sai cedo, lá pelas 8h, 9h, lá eles chegam a comer as 11 h da noite! Haja estômago! E a janta é janta: chapatis (pao indiano), vegetables, arroz, lentilhas...


Hora de nanar! Bom, aqui eu diria que a maioria das pessoas vai pra cama em torno das 11 horas... e lá na Índia, um pouco mais tarde: 12, 12:30h...


E o dia começa mais uma vez!


Os sábados pra grande maioria aqui é descanso e lá é dia normal... já o domingo aqui que nós consideramos da "família", na Índia, o domingo é do "passeio": sai todo mundo pra rua. Acho que lá não existe este hábito do "almoço de domingo com a família" porque a família já mora toda meio junto. ;)

E essa é Mumbai!


Mumbai... a cidade dos sonhos dos indianos, a cidade dos filmes, da prosperidade... mas um caos!


Ao mesmo tempo que ela mostra um pouco de cada coisa da Índia, com pessoas de todas as origens, ela é a mais diferente de todas as cidades da Índia... ao mesmo tempo que é a maior cidade e tem mais infraestrutura, morar em Mumbai significa gastar muito dinheiro e mesmo assim ficar mal acomodado... Ao mesmo tempo que ela representa o sonho de muitos, que é o cenário de muitos filmes de Bollywood, ela pode parecer muito caótica para indianos de outras partes...


Ou seja, ao morar na Índia, mas em Mumbai, tive uma experiência única... Pra começar, o caos pra morar: enquanto em outras cidades indianas, como Delhi, Jaipur, Bangalore, a acomodação era facilmente resolvida e a muitos trainees chegavam a ter quartos próprios, em Mumbai era aquela confusão de muitas mas muitas pessoas sob o mesmo teto... Pra quem acompanhou a minha saga desde o início, lembra bem como foram sofridos os primeiros dias sem saber aonde eu iria morar...


Pra começar, o primeiro choque: meu chefe, que tinha um carro bom e deveria estar bem de vida, morava num apartamento muito pequeno e mal cuidado... Depois a acomodação que a AIESEC oferecia por um preço alto (contando todos os alugueis cobrados, o aluguel do ape passava de 1000 reais) mas que era terrível... Bastou uma semana pra eu entender que morar em Mumbai era uma questão complicada...


Fácil de explicar: Mumbai é uma península e a única maneira de crescer era para o norte... assim, a peninsula começou a ficar sem espaço e não conseguiu mais acomodar a cidade que não para de crescer... Depois: as monções contribuem para a péssima condições dos prédios (chuva seguida por 4 meses), sem contar a maresia... ah, e o fator cultural entra aí também: os indianos não são tão caprichosos...


Resumindo: falta espaço em Mumbai! Então qualquer lixo vale ouro... bastou eu entender isso que quando conheci meu ape de fato, achei que era o céu: sujinho e desorganizado, mas apenas a 1 km da estação de trem, numa redondeza "calma", apenas 5 moradores ao mesmo tempo e com uma bela sacadinha de brinde! Quem vê as fotos do ape assim, no seco, acharia horrível, mas depois de entender como as coisas funcionavam em Mumbai, não deixei a chance de morar lá escapar!


Isso também explica não só o apartamento do meu chefe mas de muitas outras pessoas ricas. Impressionante, as vezes dentro do apartamento é tudo limpo, bonito e organizado, mas fora, ate mesmo no corredor, parece que é um canteiro de obras constante. Sai de Mumbai sem entender porque aquele descaso com essas partes do apartamento...


Mais uma vez: Mumbai é a maior cidade da Índia - em número de habitantes - e é uma península. Não sei os dados, mas essas informações bastam pra calcular que Mumbai é extremamente densa demograficamente... Isso faz o caos típico de qualquer cidade na Índia ser ainda maior por lá, tanto que até mesmo os indianos de outras partes se assustam com Mumbai: vendedores de rua, pessoas caminhando, mini templos, rikshaws, vacas, carros, motos, caminhões... tudo isso na rua e ao mesmo tempo!


Mas Mumbai tem uma magia que acaba conquistando... da mesma maneira que tem desvantagens, tem inumeras vantagens: por ser mais aberta ao ocidente, é a cidade mais "tolerante" da Índia: dá pra encontrar estrangeiros com certa facilidade, os indianos não encaram tanto, tem mais opções de lazer, mais variedade para shopping... e se tem a segurança de ir e vir, mesmo sendo mulher tarde da noite. Outras cidades da Índia, permanecem conservadoras: mulheres devem ficar a noite em casa, não há boates e não é muito aconselhável para mulheres andarem à noite sozinhas. Então, viva Mumbai!


É difícil dizer se essa cidade é vilã ou mocinha... Se foi melhor ter dito minha experiência de Índia por lá ou não... Mumbai é o caos mas também as opções, Mumbai é o luxo mas também o "lixo"...




segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Comentários

Galera, falando em comentários, só agora que comecei a dar uma geral no blog que descobri muitos comentários que não tinha visto ainda... Pô, foi mal, o problema é que aqui no Blogger não tem nada que avise o surgimento de um novo comentário, ou pelo menos, eu desconheço dessa ferramenta...
Mas assim, se alguém postou algum comentário que eu nunca respondi, vale postá-lo agora ou me dizer aonde que ele está perdido! ;)
Já vi que a Cynthia deixou um comentário bem legal lá pelo dia 20 de junho, mas acho que sem querer, já respondi as dúvidas dela... quer dizer, a parte da sujeira e bichos na rua ainda não, mas posso puxar um link disso quando falar de como era viver na caótica Mumbai. ;)

Sugestões???

Galera, em alguns dias o blog completa um ano... E a minha volta da Índia já está completando mais de 3 meses... ou seja, parece que o blog está chegando ao fim :(
O blog foi uma experiência interessantíssima, "não teve preço" poder dividir aqui minhas experiências, alguns aventuras e um pouco de uma cultura tão diferente. Uma pena que eu não tenha explorado o blog antes, porque só agora descobri muitas ferramentas que teriam facilitado essa troca de informações... Mas quem sabe, pra minha próxima aventura, não aproveito tudo isso?
Para terminar, gostaria de "esgotar" todos os assuntos... Alguma sugestão por parte de vocês, leitores? Alguma dúvida ainda resta? Algum assunto que deixei de abordar?
Por favor, mandem seus comentários pra tentar fechar este blog com chave de ouro. ;)

sábado, 8 de agosto de 2009

A taste of Rajasthan...

As fotos mais bonitas que tirei na Índia foram com certeza no Rajastão. A aridez da paisagem com as cores vibrantes dos tecidos fazem a combinação perfeita para qualquer lente... Turbantes, palácios antigos, roupas típicas,cidades coloridas - sim, Jaipur é dita a cidade rosa, Jodhpur a cidade azul e por aí vai - deixam o cenário inspirador para qualquer fotógrafo!

Turbantes na cidade murada de Jaipur


Hawa Mahal, o famoso palácio dos ventos (mas é só uma "parede" não há nada atrás) é tão bonito que até a Globo fez dele parte de seu cenário na novela.



Uma espiadinha no Amber Fort...



Pushkar, uma das cidades mais sagradas para os hindus, onde há o único templo para Brahma (deus da criação, por isso não tão venerado - é preciso que haja a destruição antes para depois haver a criação; mas a lenda diz que foi um castigo por Brahma ter sido infiel o fato de ele ter um só templo) é cheia de reliogosos hindus bem a caráter.



Uma vaquinha típica indiana... Bem magrinha!


Shoes??? Differents style, different size, different different!!!



A vista da cidade de Jaipur do alto do Tiger Fort.



E o Tiger Fort.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Comemorando um aniversário na Índia

Ontem foi meu aniversário... e infelizmente na Índia não tive a oportunidade de comemorar nenhum aniversário mas em compensação organizei festinhas pra muitos! Não posso falar muito de como se comemora o aniversário na Índia na maneira mais tradicional... mas posso dividir com vocês a minha experiência em muitas comemorações ( e embora estrangeira, estava rodeada de indianos, ne?)
Existe o hábito de dar presente também... de cortar bolo, soprar velinha... bom, quase que com certeza isso é influência do Ocidente. Mas uma mania que eles têm, que por sinal, achava horrível, é sujar a cara do aniversariante com torta!!! Blé! Tá certo que as tortas não eram muito gostosas (um bolinho normal com cobertura por fora), mas lambuzar a cara pra que?
As fotos não metem e mostram em sequência o aniversário da Erica, do Samuel e do Sandeep!
Por último mostra até o bolinho, quando comemoramos a aniversário do Samuel num restaurante, Red Box, nosso super ponto de encontro em Andheri West.
Happy Birthday com sotaque indiano!!!











quinta-feira, 30 de julho de 2009

Os verdadeiros Slumdogs

Depois do filme Slumdog Millionaire (com o título em português, Quem quer ser um milionário?), Dharavi, uma favela de 1 milhão de habitantes no coração de Mumbai, ficou ainda mais famosa. Embora o filme não tenha sido filmado lá, as cenas de crianças brincando no lixo, correndo de pé descalço, de senhoras lavando roupa em águas sujas, mercadinhos em pequenos becos, de ruelas com muita sujeira e multidão, também são bem comuns por lá. Foram justamente as cenas passadas nas favelas, embaladas por uma excelente trilha sonora com as premiadas canções Jai Ho e O saya... que mais me impactaram no filme.
Sendo assim, lá fui eu: passeio em Dharavi, através da Agência Reality Tours. Foram duas vezes que visitei a incrível Dharavi. Os detalhes da primeira visita estão registrados no post Dharavi uma mini Índia e valem a pena ser relidos. ;) Mas foi depois da segunda vez que me mandaram as fotos que estou mostrando pra vocês agora.
A Reality Tour tem uma política de não deixar os visitantes tirarem fotos. Os guias alegavam que os moradores se sentiam ofendidos ao ver os estrangeiros tirando fotos deles... achavam que os estrangeiros tiravam fotos deles pra depois rir. Não concordo muito com essa observação, o que sempre vi na Índia era um povo que sorria para as câmeras até demais, que não só eles se deixavam aparecer como depois vinham pedir para tirar uma foto nossa (lembram da minha história no Taj Mahal?). Mas enfim, entendo a posição da agência, tem muito gringo por aí sem noção que acaba tirando fotos do que não deve... então, melhor evitar qualquer foto.
O que importa é que agora tenho fotos ótimas desta mini Índia e dá pra explicar um pouquinho mais desse universo de Dharavi através das fotos. Vamos lá!


Little Slumdogs: as crianças foram pra mim a melhor parte de Dharavi, sempre sorridentes, inocentes e brincalhonas. Ah, não posso esquecer, curiosas! Muitas chegavam perto da gente e perguntavam o nosso nome, o país e até queriam aperto de mão! ;)

Reciclagem de plástico: Dharavi tem uma economia impressionante, desde reciclagem de plásticos até produção de roupas. A foto mostra que toda a área da favela é bem utilizada, neste caso, o telhado está sendo feito de depósito, mas muitas vezes os telhados desempenham um importante papel no processo de reclicagem: seca-se o plástico já lavado e antes do processo de fusão e extrusão no topo das fábricas.


Latas, muitas latas: parte do processo de lavagem das latas de óleo. Reparem também as péssimas condições de trabalho... Um trabalhador ganha em média 100 rúpias por dia, o equivalente a 4 reais.


Embroidery: Alguém tem que bordas os lindos sarees, né? E podemos dizer que muitos são bordados em Dharavi. E olhem as carinhas dos indianos, não disse que eles adoram sorrir para uma foto?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Dúvidas sobre a Índia?


Aqui vai mais um trecho do que já escrevi para outra reportagem... (deu pra ver que ando meio sem inspiração para escrever coisas novas...)
Dessa vez o assunto principal foi Choque Cultural, e a Daniela, que também foi membro da AIESEC em Porto Alegre ficou interessada em escrever para a resvista onde ela trabalha. O artigo que ela está escrevendo promete, além de peculiaridades da Índia, ela andou pesquisando com outros brasileiros que já andaram pela China, Europa... Assim que a reportagem sair, publicarei o link!
As perguntas marcadas e os comentários logo abaixo, coloridos, foram feitos pela Daniela. Abaixo, tem as minhas explicações.

É muito comum trabalhar nos sábados?
( Eles fazem festas nos finais de semana? Os jovens saem a noite? Como é a diversão? O único dia de folga é o domingo?)

Sábado é considerado um dia útil (não lembro se os bancos abrem) e a maioria das empresas requer que os funcionários trabalhem no sábado. Algumas fazem disso uma rotina a cada duas semanas, outras encurtam o expediente (tipo das 10h às 14h). Sendo assim, o único dia de folga mesmo é domingo, ainda que as lojas e os shoppings abram – justamente, o passeio de domingo dos indianos é ir “no mercado” com a família toda.
A diversão pras famílias é estar reunidos e ir passear no domingo. Em cidades com monumentos históricos, como castelos, fortes, estes costumam lotar no final de semana, já que o ingresso cobrado pra indianos é irrisório ( tipo 10 rúpias, 40 centavos de real).
Para os jovens mais moderninhos, existem boates nas maiores cidades, mas a festa termina cedo: geralmente às 2h da manhã (mas também começam a meia noite como aqui). E Claro, as festas são cheias de homens, já que as meninas são mais “presas” pela família.
Bares com narguilé, cafés e sports bars (com tela mostrando futebol, sinuca e outros jogos) também fazem parte das distrações dos indianos (em cidades grandes).

Quanto mais rica a casta, menos tradicional ela é.
( Falar sobre o estilo das casas e as vestimentas)

Essa relação entre casta eu não posso afirmar. Mesmo porque, nem sempre a casta está diretamente relacionada com o poder aquisitivo. Na Índia, o número de empreendedores é tão grande que as vezes um cara muito rico tem uma origem mais simples.
Mas o que eu posso afirmar é que quanto mais exposta ao ocidente a família – negócios no exterior, filhos que foram estudar fora, etc – menos ela valoriza a cultura indiana: a casa tem pouca decoração indiana e as roupas típicas são usadas apenas em cerimônias e festas, no dia a dia, são substituídas por jeans.
Já as mulheres de baixa renda, não dispensam um saree e um bindhi nem pra trabalhar. Exemplo da minha empregada, que vinha fazer a faxina de saree, cheia de pulseiras e sempre com um bindhi na testa.

Contato físico.
( As pessoas não se beijam nem tocam em público...)

No mundo dos negócios, já existe o aperto de mão entre os homens. Já entre homens e mulheres nem sempre. No dia a dia, quando apresentado a alguém, geralmente só um sorriso, um gesto ou o famoso namaste valem como um cumprimento.
Entre os mais jovens, ainda mais quando uma das pessoas é estrangeira, meu caso, já é bem comum abraço e beijinho na bochecha.
Mas na Índia, não existe namorar em público. Não vou dizer que não dá pra encontra ninguém se beijando numa boate, mas esse fato é raríssimo. Na frente dos outros, os casais mal se olham e mãozinhas na rua só entre amigos homens (esse gesto é visto como amizade, não tem nada de homossexual).

Mão direita e mão esquerda
( Mão direita para comer, mão esquerda para se limpar. Não utilizam papel higiênico)

Como na Índia a água é utilizada para limpar-se no banheiro e a mão utilizada para isso é a esquerda, considera-se a mão esquerda impura. Assim, os indianos são ensinados desde pequeninhos a usar a mão direita para cumprimentar, para receber algo e para comer (só se usa uma mão).
O papel higiênico está ficando um pouco mais comum, mas só nas grandes cidades.
Violência
( É violento? Da medo? Terrorismo?)
Ta aí uma prova de que pobreza não significa violência: na Índia, não existe essa violência urbana que enfrentamos aqui, de assaltos, seqüestros e outros golpes. (Embora no interior mulheres devam tomar cuidado à noite... por causa da possibilidade de serem estupradas)
Ou seja, não existe insegurança individual na Índia, mas devido ao terrorismo, existe a insegurança coletiva – que pode acontecer a qualquer hora e atingir a todos. Os ataques terroristas são um reflexo da tensão entre os muçulmanos e indianos, ou melhor, entre a Índia e o Paquistão, já que a maioria dos grupos têm origem no país vizinho. Mas nunca tive medo do terrorismo, sei lá, não tenho medo de algo que não tem como evitar... sempre me senti muito mais insegura no Brasil. Afinal, se a gente colocar no papel, morrem mais brasileiros vítimas dessa violência brutal do que indianos vítimas de ataques terroristas.

Moradia
( Dividem o mesmo quarto e guarda roupa? Como é isso?)

Para famílias mais pobres em Mumbai, onde espaço é um bem caríssimo sim. Mas na cultura indiana, o que acontece é que as gerações moram junto, mas numa casa grande (cada casal tem seu quarto).
Vacas.
(Estão por todos os lugares? Eles não as comem mesmo? Por que são tão sagradas? )
Eu li esses dias que seriam tão sagradas porque a vaca é o último animal que somos no ciclo de reencarnações antes de nos tornarmos humanos. Mas na minha opinião, a vaca é muito sagrada porque a alimentação indiana é muito baseada no leite (maior fonte de proteína já que muitos são vegetarianos).

Estrangeiros.
(Os indianos gostam de estrangeiros? Como são tratados lá?)

Herança do tempo de colônia inglesa, os indianos aprenderam a reverenciar o branco. Hoje isso se reflete na população que ânsia por ser mais branca (produtos para clarear a pele é o que mais vende lá) e também que consideram o estrangeiro branco “superior”.
Mas um pouco desse deslumbre por estrangeiros é que na Índia não é tão comum gente de fora como aqui... nós nascemos em meio de italianos, alemães... enquanto a milhares de anos a composição população indiana seja. Outra coisa, com a fisionomia muito diferente, é fácil reconhecer um estrangeiro. Juntando tudo, a reação da maioria quando vêem um é quase como seria a nossa ao ver um ET: muita curiosidade.
Tratados? Muito bem! Além dos fatores que expliquei acima, os indianos sempre tratam bem um hospede, com muita comida, muito conforto.

sábado, 25 de julho de 2009

Tudo sobre o casamento indiano

Ainda quando eu estava na Índia, fui contactada por uma jornalista , Vanessa, do Ponto dos Noivos. Ela queria saber mais sobre os casamentos na Índia, já que com a estréia da novela no Brasil isso tinha virado a última moda por aqui.

Pra quem se interessar, a matéria dela, feita com a minha e também a contribuição de indianas no Brasil e brasileiras na Índia, pode ser lida aqui.

Mas também acho bem interessante publicar alguns trechos do meu depoimento. Ai vaí:

"Cite rituais que você conhece a respeito da cultura indiana que não podem faltar na festa de casamento."

Casamentos tem rituais proprios, diferentes dos rituais cotidianos, portanto nao existe nenhum ritual normal da cultura indiana que nao pode faltar no casamento. Dentro dos rituais que sao feitos, eu diria que nao pode faltar o ritual da entrada da noiva na casa do noivo (na verdade, na casa da familia dos noivos, onde a esposa vai morar depois do casamento) quando ela derruba um pote com arroz na porta principal pra trazer boa sorte.
Outro ritual que vi em todos os casamentos eh a troca de colares de flores pelos noivos, que representa a uniao. Tambem, vi em alguns filmes, o noivo e a noiva dao 7 voltas ao redor de um fogo.
Henna, que em hindi se chama Mehndi, eh algo que com certeza, nao pode faltar. A noiva eh pintada de mehndi nas maos e nos bracos (ate um pouco antes do cotovelo) e nos pes ate o tornozelo. Dizem que quanto mais escura a mehndi aparecer no dia seguinte em que for aplicada, mais o marido ama a esposa. Ou ainda, mais a sogra ama a nora (relacoes entre sogra e nora sao algo complicado por aqui). As mulheres das familias tambem devem aplicar mehndi, em geral, nos casamentos ha um dia uma pessoa vem para aplicar mehndi em todo mundo (as vezes esta parte eh fechada so para a familia, as vezes essa parte eh aberta para os convidados). Mas a aplicacao eh bem menor, em geral, um detalhe nas maos.

"Existem semelhanças entre o casamento indiano e o brasileiro? Se achar que sim, cite-as. "

Eu, particularmente, vejo pouquissima semelhanca. A parte que eh igual eh o envolvimento principalmente da familia da noiva, a “festanca” e a “comilanca” e, claro, os vestidos caros das mulheres. ;)
No Brasil, a palavra casamento esta muito ligada a festa, a bebida alcoolica, danca e diversao. Aqui nao. Muitos indianos jovens nem gostam de ir a casamentos porque acham chato assistir aquela cerimonia toda, longa, cheia de significados. Dependendo do casamento, nao se deve esperar alcool e nem mesmo danca. Os casamentos que duram dias em geral tem o dia da Recepcao, onde ha danca, musica e bebida, que seria a parte mais proxima da realidade brasileira. Os outros dias, sao cheios de cerimonias longas, musicas tipicas e tradicionais onde os parentes sao bastante envolvidos: tem que dar a “bencao”, etc.
E aqui o significado de casamento eh outro... Nao se espera um grande amor e sim um companheiro, com quem se va construir uma vida e ter filhos. Dificilmente encontro alguem com mais de 25 anos que nao esteja casado. Na India, o senso de familia eh fortissimo e uma vez casado, a pessoa nao se casa so com o noivo/noiva mas tambem com a familia. Ou melhor, as familias “se casam”. Nao se deve esperar privacidade e muito menos que os familiares nao se metam na vida do novo casal.
O “love marriage”, casamento por amor, esta um pouco mais comum, em geral acontece em familias mais cosmopolitas e liberais, ja que geralmente o amado eh de outra casta, outra origem ou ate outra religiao. Para as familias tradicionais, os casamentos devem ocorrer por volta dos 23 anos, quando comecam a procurar candidatos para fazer o famoso “arranged marriage”. E o casamento arranjado tambem avancou um pouquinho, diferente de antigamente, onde os noivos se conheciam apenas no dia do casamento e quem dizia “sim” eram as familias dos respectivos. Hoje em dia, os candidatos se encontram e eles mesmos decidem se querem ou nao. Depois desse primeiro encontro, acontence o “noivado” (que nao tem nenhuma especie de troca de aneis, mas tem uma cerimonia com as familias) e com base no mapa astral dos noivos – claro, tambem se checa o mapa astral dos noivos pra ver se bate – eh escolhida a data, que eh de 6 meses a 1 ano depois do primeiro encontro.
Pra qualquer brasileiro, este conceito pode ser um absurdo. Pra mim, depois de alguns meses aqui, eu sou a favor. Num pais com tantas religioes diferentes, onde ate mesmo dentro de uma subcasta habitos alimentares mudam, costumes, tradicoes e ate mesmo o idioma muda. Entao, ao mesmo tempo que se esta casando com alguem, se esta casando com toda uma cultura... E o que acontece quando se misturam duas culturas? Qual seguir? Ser vegetariano ou non-veg (comer de tudo)? Falar “gujarati” ou “marati” (duas linguas diferentes)?
Depois, vale sempre lembrar que o casamento aqui eh visto como uma uniao de familias, como algo para construir uma vida, ter filhos, portanto necessita uma base forte – que eh dada quando as familias resolvem casar os filhos. Portanto, eles nao podem arriscar que um casamento seja baseado num “amor” que pode acabar e arruinar tudo...


Por último, uma apresentação de fotos dos diversos casamentos que fui:

domingo, 19 de julho de 2009

The real India

Estava surfando pelo site da revista norte americana, The Economist, e achei esta apresentação.
Para quem não é tão afiado no inglês, a apresentação explica com fotos e aúdio sobre Gurgaon, um subúrbio em Delhi que começou há cerca de 2 décadas atrás e agora não pára de crescer. Gurgaon é hoje sede de muitas empresas importantes na economia indiana e antes não passava de muitos campos de trigo.
A apresentação também fala do contraste típico da Índia: terrenos carríssimos ao lado de terrenos cheios de entulhos e pessoas miseráveis morando; empresas bem sucedidas e empregos informais na rua, como barbeiros e tal...
Mas a apresentação me conquistou por que tem algumas entrevistas a indianos que mostra eles falando com aquele sotaque... super típico! E ainda tem um barbeiro falando em hindi, mas com uma senhora ao lado que ajudou a traduzir. ;)
Pra fechar, mostram a casa de uns indianos em Gurgaon (olhem bem o interior, nada a ver com o cenário da novela!!!) e a senhora fala do business do filho e do marriage da filha (as coisas mais importantes na Índia, respectivamente, para homens e mulheres).
Assistam (mesmo quem não entende inglês)!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Identificando cada religiao

Procurei nas minhas fotos elementos que caracterizassem cada religião. Existem marcos de cada religião que podem ser facilmente identificados pelas ruas:

Hinduísmo - foto de uma espécie de templo e se pode ver as fitinhas amarradas a árvore que juntam os desejos dos fiéis. É normal receber uma fitinha destas para se amarrar no punho, faz parte do ritual hindu. Embaixo dá pra ver uma série de potes, são 108 que representam os 108 nomes de Shiva: os fiéis devem colocar moedinhas (não de verdade) em cada pote ao repetir um mantra.

Budismo - está religião nasceu na Índia mas tomou mais força mesmo em outros países da Ásia. Hoje, a Índia revive um pouco desta fé budista com o exílio de muitos tibetanos de seu país para o norte da Índia. O budismo tibetano tem características próprias e entra elas estão as rodas da oração, onde a pessoa deve passar e girá-las no sentido horário. Se acredita que este ato tem o poder de muitas orações. Reparem o monge budista ao fundo da foto.

Siquismo - fáceis de se perceber, os siques homens sempre usam um turbante. Já nas gurdwharas, o ato de cobrir a cabeça é generalizado. Outro rito que deve ser feito antes de entrar no templo, é limpar os pés (descalços) com água corrente.


Islamismo - Muitos dos fiés muçulmanos se vestem assim: de branco e com a toquinha. Em Mumbai, é muito fácil escutar o Azan, momento em que os fiés são chamados para rezar (tipo uma canção que sai dos auto falantes das mesquitas que toca ao entardecer), já que as mesquitas são muitas pela cidade.
Cristianismo - Marca dos colonizadores europeus no subcontinente: em torno de 3% dos indianos são hoje cristãos. Até mesmo em Mumbai há um número considerável de igrejas.

E as varias religioes...

Na India existe uma diversidade religiosa incrivel. So pelos meus amigos da pra perceber : Ajay, Arjun, Navdeep eram jainistas, o Sandeep era sique, o Saumitra, o Jagdish e o Akash hindus, ja o Gregory, cristao, o Jehangir , parsi enquanto o Rashid era muculmano. ;)

Algumas religioes nasceram no proprio subcontinente, como o predominante Hinduismo e os , contrarios a essa primeira, Jainismo, Budismo e Siquismo, que surgiram em uma forma de oposicao ao sistema de castas hinduista. Outras foram trazidas por invasores, como o Islamismo pelos mongois e o Cristianismo pelos colonizadores europeus. Ja o Zoroatrismo, surgiu com a migracao de iranianos para a India, quando estes comecaram a ser perseguidos pelos muculmanos em seu pais natal. 

Ha semelhancas entre elas porem tambem muitas diferencas. O Budismo, Jainismo e o Siquismo herdam muitas semelhancas do Hinduismo, como a existencia de um karma e de um ciclo de reencarnacoes. Mas enquanto no Hinduismo apenas parte dos fies eh vegetariana, no Jainismo, os seguidores sao extremamente vegetarianos: alem de nao comer carne e ovos, nao ingerem nenhum alimento que cresca sob o solo, ja que na colheita, ao mexer a terra, mata-se microrganismos. Sim, eles acreditam na completa nao violencia e na valorizacao de qualquer ser vivo. Os sacerdotes so usam roupas de algodao e ainda usam uma mascara, para evitar que inalem pequenos insetos e os matem. 

Minha experiencia com jainistas foi interessante, embora eles sejam uma pequena fatia, conheci varios. Nenhum deles tao rigido quanto a alimentacao, mas todos vegetarianos. Um deles, nao podia nem passar perto de um mercado de carne ou peixe, porque se comovia com o sofrimento dos animais. Ah! Vale a pena lembrar que com essa restricao alimentar, os jainistas comem o que chamamos de Jain Food e em muitos restaurantes vinha sinalizado no Menu quando a comida era propria pra jainistas. 

Falando em vegetarianismo, muitos hindus tambem sao vegetarianos. Budistas tambem. E a maior parte do vegetarianismo na India, nao exclui somente a carne, mas tambem o ovo. E existe uma quantidade de coisas em que o ovo se esconde, como bolos, bolachas, chocolates , paes e uma outra serie de produtos industrializados. Entao, pra nao serem enganados e escaparem de agir contra suas crencas, existe na India um selinho, uma bolinha que vem na embalagem de todos os produtos: quando eh verde e inteiramente veg e quando eh vermelha eh non veg

O Budismo, embora originario na India, hoje eh muito mais comum em outros paises da Asia, como o Tibete, a Tailandia e Laos. Sim, hoje na India, existem mais cristaos que budistas. Nos ultimos anos, esse numero aumentou um pouco, ja que houve um movimento para os dalits, considerados inferiores no Hinduismo, se converterem ao Budismo. 

Quem nunca viu aqueles indianos com turbantes que nao tiram em momento nenhum? Pois eu me impressionei quando vi um desses ate na academia... Pois eh, esses sao os siques, que por debaixo deste turbante tem o cabelo tao longo por nao ter sido nunca cortado. O Siquismo foi a ultima religiao que surgiu em oposicao ao hinduismo, e esse costume de deixar o cabelo crescer eh considerado um ato de simplicidade. Eles sao muitos solidarios e eh sempre possivel encontrar ao lado de uma Gurdwhara, templo sique, um refeitorio repleto de voluntarios que oferece comida de graca. 

Os siques sao maioria no estado do Punjab e sao homens geralmente fortes e guerreiros. O maior simbolo religioso deles eh o Golden Temple, que quem ja viu diz que eh tao impressionante quanto o Taj Mahal

Falando das religioes que foram trazidas para a India, o Islamismo eh a maior delas: em torno de 13% da populacao indiana hoje segue os ensinamentos de Maome. Essa convivencia entre muculmanos e hindus nunca foi muito harmonica e estorou com a Independencia da India, quando foram criados dois estados com maioria muculmana, o Paquistao e Bangladesh. Um simbolo desse eterno conflito entre a India e o Paquistao eh a instavel porem linda regiao da Caxemira, que vive com intensa ocupacao militar indiana e nunca se sabe quando as coisas por la podem estourar.

Em geral, eh facil reconhecer os muculmanos na rua: eles usam umas toquinhas e muitos tem a barba comprida. Depois, opiniao minha, eles tem um comportamento diferente, em geral, sao mais calados e timidos. Como sao uma minoria consideravel, alem de nao encontrarmos carne de vaca na India, nao se encontra carne de porco, ja que o porco eh considerado um animal impuro para os crentes de Allah. Tambem existe uma denominacao propria pra comida que os muculmanos podem comer, Halal Food, ja que alem de excluir o porco da dieta, os animais que sao ingeridos devem ser abatidos de uma maneira diferente (nao sei bem, acho que talvez em direcao a Meca, alguma coisa assim). Mas na India, esse conceito nao era tao forte, enquanto na Malasia, pais muculmano, eu via praticamente em 100% dos estabelecimentos: " Aqui tem Halal Food. " 

O Cristianismo veio com os europeus e ficou concentrado na costa oeste e no sul da India. Em Goa, que foi colonia portuguesa ate a decada de 60, o marco do cristianismo eh forte: igrejinhas por todos os lados, cruzes, etc. Ate um santo Goa tem: Francis Xavier, que tem seu corpo praticamente intacto desde o momento de sua morte (ha centenas de anos atras) e que fica exposto numa das belas igrejas de Old Goa.  

Os parsis, embora nao contem mais de 200.000 na super populosa India, sao bastante importantes na sociedade indiana. Eles sao em geral homens de negocios e de alto poder aquisitivo, consequencia de uma serie de privilegios que receberam dos ingleses durante a Colonia. Hoje, grandes nomes da economia indiana sao parsis. Um exemplo eh o poderoso dono e presidente da TATA, uma das maiores empresas do pais. 

O Zoroastrismo se baseia na existencia de um bem e um mal. Sao considerados monoteistas e uma das coisas mais curiosas desta religiao eh que os corpos nao sao nem cremados nem enterrados: acreditam que nao se pode contaminar elementos sagrados, como o fogo e a terra, com a morte. Entao, os defuntos sao colocados nas famosas Torres do Silencio, onde sao lentamente comidos por abutres. 

Pra fechar essa explicacao toda sobre as diferentes religioes na India, vale falar do predominante hinduismo. Eu diria que a maior caracteristica do hinduismo eh o enorme numero de deuses: somam-se em torno de 250 milhoes de deuses ( praticamente um deus pra cada tres hindus). O culto a um determinado deus em geral depende da casta, do grupo e da regiao do hinduista. De maneira geral, os mais populares sao Ganesha, o deus cabeca de elefante, Hanuman, o deus macaco e da forca e Krisna. (mas atencao, falo isso baseada em experiencia pessoal).

A trindade eh completa pelos deuses Brahma, da criacao, Vishnu, da sustentabilidade e Shiva, da destruicao. Os hindus exercitam sua fe nos pujas matinais, que sao as oracoes que podem ser realizadas nos templos ou mesmo em casa, em pequenos templinhos de madeira com imagens de deuses e gurus e flores. 

O mais interessante porem, justamente por ser predominante, o hinduismo influenciou as outras religioes, mesmo as que nao tem nenhuma relacao direta, como Budismo, Jainismo e Siquismo: eh possivel ver tracos fortes do Hinduismo no Islamismo e no Cristianismo praticados na India. Isso comecou a chamar a atencao quando a Salma, minha melhor amiga e muculmana da Tunisia, nao entendia porque se jogava flores ou se orava voltados para um corpo de um sufi: no Islamismo nao ha nenhuma imagem ou materializacao ou oferenda, ora-se para um "altar" que indica a posicao de Meca. Mas na India, as flores que sao caracteristicas fortes do Hinduismo, abundam tambem nas mesquitas.

No Cristianismo, eh comum ver a imagem de santos repletas de flores, alem das cruzes. Tambem escutei que os fieis cristao tocam nos pes das imagens dos santos, um ato bem hindu - se toca nos pes de pessoas mais velhas e dignas de maior respeito.

Viva a diversidade nessa caldeirao de culturas que e a India! ;) 
 

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Momentos que sinto saudades...

Coffee and Maska Pav - nas manhas no nosso "garage office" na HaraBara era dificil a gente passar sem um cafe e um pao com manteiga do Persian Cafe, botequinho que tinha perto do escritorio. Com menos de 100 rupias, 4 reais, faziamos a festa para todos!!! Claro, e como bons indianos, a comida vinha envolta em jornal!




Experimentando sarees pelo mercado - diferente da celebre frase da novela Caminho das Indias, a minha frase fala em experimentar e nao em " arrastar o saree pelo mercado" . Tenho saudades dos dias que eu e a Salma tiravamos pra percorrer lojas e mais lojas e nao paravamos de experimentar os mais diversos modelitos. Pena que no fim a gente se enjoou tanto que acabou sem comprar nenhum! A foto mostra as pulseiras, ja que eu cansei de colocar fotos de sarees aqui!




Exibindo minha Mehndi - nossa, ate os indianos chegavam a se surpreender o quanto eu gostava de uma henninha na mao. ;) A Salma entao, ficava chocada, porque na Tunisia isso ja ficou uma coisa das classes mais baixas. Bons eram os momentos que eu podia posar com as minhas maos cheias de design ;)



Comendo a Tiffin - yummy yummy, como dizem eles, que delicia aquela comidinha que a auntie preparava todas as noites e que a gente ia com as tiffins pegar. Saudades daquele chapati macio e quentinho, do feijao marrom bem apimentado...




Sabados a noite no Goregaon Flat - muito dificil da gente sair, ja que o Sandeep e o Saumitra chegavam a trabalhar ate no sabado e em geral terminavam o dia cansados. As vezes, ate eu tinha um que outro evento pra trabalhar e tambem chegava tarde em casa. Mas nao por isso, dormiamos cedo: as vezes ate o Akash vinha do sul de Mumbai se juntar a nos e a festa comecava : ai mesmo na nossa mini sala, com ou sem musica, com ou sem danca, a diversao era garantida. Pra ver que bastam bons amigos por perto pra garantir um bom momento. ;)




Rikshaw drive - com um ventinho vindo e uma boa companhia, as vezes as corridas de rikshaw eram muito divertidas... e alguns motoristas foram muito especiais: nao vou me esquecer de um que queria ate casar comigo, hahaha, quando eu, a Erica, o Greg e outro amigo estavamos num rikshaw. Tinha ate musica e foi muito divertido ter os meninos pra traduzir o que o rikshaw wallah falava. Outra vez que foi engracada, mas ai estavamos so entre estrangeiros , eu, a Salma e o Coffey e so na base do rikshaw english pra se comunicar. Bom, o motorista nao queria de jeito nenhum baixar o preco mas em compensacao queria tirar fotos comigo e com a Salma! hahahah Bom, eles nos chineliou quando tirou o seu celular com camera do bolso! hahaha

quarta-feira, 8 de julho de 2009

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Descobrindo a India - apresentacao para AIESEC

Na ultima sexta, dia 3 de julho, foi a vez de mais uma apresentacao sobre a India. Nesta ocasiao, fui convidada pelo pessoal da AIESEC em Porto Alegre, organizacao pela qual eu fui parar na India, pra fazer uma breve explanacao sobre a minha experiencia, de uma duracao de no maximo 20 minutos.

Preocupada com o tempo, resolvi focar na minha experiencia mesmo, como foi o choque cultural, como foi a recepcao, como era a moradia e o trabalho, pensando nas dicas que eu gostaria de ter recebido antes de viajar. Falar da India seria algo secundario, ja que em 15 minutos sao muito injustos pra falar de um pais com tamanha diversidade...

O publico eram membros do comite local, uns com mais e outros com menos corrida na organizacao, mas todos potenciais trainees pela AIESEC. Assim, comecei me apresentando, dizendo o que eu era, quando tinha trabalhado na organizacao, quando resolvi ir pra India e quanto tempo fiquei por la. Depois ja mostrei os pontos que acharia importantes discutir:
- choque cultural;
- recepcao e moradia;
- trabalho;
e dicas para futuros trainees.

A primeira foto que mostrei, que na verdade e uma colagem, foi justamente pra dar uma pincelada do que eh India e do tamanho do "choque cultural" que estava me esperando por la: isla, hinduismo, budismo tibetano e cristianismo; trens locais de Mumbai a Shikaras na Caxemira; Palacios a multidoes; neve a praias e claro, uma vaquinha pra completar. ;)

So esse slide ja gerou bastante perguntas...

Nesta parte, de choque cultural, lembrei muito que quanto mais a gente aprende sobre o pais antes de ir, melhor. Primeiro porque mesmo nao evitando o choque cultural, pelo menos da pra ameniza-lo. Depois, mais facil e mais rapido se aprende e se insere na nova cultura - e isso vale para qualquer lugar no mundo. Na India as pessoas se impressionavam com o meu conhecimento sobre o pais e os meninos, Sandeep e Saumitra, que ja viram muuuuuitos trainees por la, nao cansavam de dizer que achavam que eu aproveitava a India ao maximo, justamente por saber e me inserir na cultura. Mas lembrei: embora tenha me tornado uma super indiana, continuei usando papel higienico!!!

Outra coisa que considero fundamental pra ajudar a adaptacao no pais hospedeiro sao as amizades... O fato de eu conhecer o Sandeep logo de cara e ele ter se tornado um grande amigo me ajudou demais na adaptacao. Com ele, surgiram outros amigos e aos poucos, rodeada de pessoas queridas eu ja me sentia em casa. Mas tambem e importante balancar essas amizades: por estarem justamente na mesma situacao, a tendencia natural eh que nos, trainees, nos juntemos com outros trainees. Claro que e otimo estar num pais diferente e alem de conhecer essa cultura conhecer a de um amigo que tambem eh de um lugar diferente, mas o natural eh que esse grupo de estrangeiros se feche frente ao pais hospedeiro e formem a sua "patotinha" perdendo essa importante interacao com o pais e a cultura onde estao. Ou seja, muito importante: facam amigos do local, que vai ajuda-los a entender sobre os costumes, o dia-a-dia, que vai dar dicas praticas sobre viagens, sobre lugares pra sair, que vai quebrar varios galhos e por ai vai ... ;)

A parte seguinte da palestrinha foi sobre a recepcao da AIESEC de la e sobre as minhas condicoes de moradia. Bom, fiz questao de mostrar as fotos dos piores momentos: a minha cama na sala, hahahha, o banheiro , que eh um choque pra muitos com a sua patente turca, e o guarda-roupa que dividiamos em tres. Claro que aquilo assusta de cara, mas eh algo que da pra superar... o que eu disse eh para eles se certificarem muito bem sobre as condicoes de moradia e outras condicoes antes de sair daqui pra evitar surpresas como eu tive... Pra evitar uma noite parecida com a minha, quando me jogaram em Sagar City, aquele ape horrivel perto de uma favela em que a AIESEC Mumbai planejava que eu ficasse.

Tambem importante, frisei que se deve descobrir exatamente como funciona a AIESEC la. Ter sempre um plano B e ja comecar pela chegada no aeroporto: telefones de varios membros, enderecos e ate um endereco de hotel. Em geral, quem da a real da situacao mesmo sao os trainees que ja estao la, acho dificil a AIESEC assumir que eh ruim e desorganizada, como fazia a Annu, me engabelando que estava tudo bem por email e que alguem estaria me esperando la na chegada. Entao vale muito a pena contactar trainees!!!

Ja o trabalho... se ate entao a situacao nao parecia muito favoravel... imaginem no que se tratava falando do trabalho... Embora meu chefe jurasse de pe junto que o meu trabalho era exatamente igual ao que estava escrito na internet, eu nunca concordei de que sai do Brasil pra trabalhar de telemarketing e tradutora... hihih mas enfim, esta discussao aqui nao vale a pena, mas vale muuuito a dica que se deve certificar muito bem a descricao do trabalho antes mesmo de assinar qualquer papel aqui no Brasil: pergunte tuuuuuudo o que for necessario, pesquise sobre a empresa na internet e se eles ja tiveram outros trainees, tente este contato. Vale a pena pra nao se decepcionar la e ver que 8 horas do seu dia sao um saco.

E pra fechar, so repeti bem as dicas anteriores e lembrei a palavra: flexibilidade. Nao da pra esquecer que o intercambio eh uma experiencia fora da nossa zona de conforto e exige muita adaptacao e flexibilidade da nossa parte... E justamente agindo assim que ganhamos a melhor parte desta experiencia: o crescimento pessoal. ;)

Ai as perguntas na pararam de surgir e se nao tivessem me parado estaria ate agora la, falando, falando... ;)

sábado, 4 de julho de 2009

Yes, we love mehndi!!!

Folhas de henna secas - Lawsonia inermis - e limão: esses são os ingredientes da minha mistura preferida na Índia, que quando aplicada à pele pigmenta por uns dias. No Marrocos, eu já tinha experimentado henna, mas os indianos são infinitamente superiores nesta arte: os desenhos feitos nas mãos e nos pés são de uma riqueza de detalhes incrível, de um design harmonico... demais. Não era por nada que nos casamentos a minha parte preferida sempre foi o Mehndi day. ;)

A henna, que na Índia é chamada de Mehndi, é aplicada em cerimônias especiais, como casamentos e noivados. A aplicacao e feita por profissionais num parte da cerimonia so dedicada para isso, como expliquei, uma especie de Mehndi day, e quem tem a mão pintada são as mulheres das famílias principais da cerimônia - a família do noivo e da noiva. Claro que a noiva tem atenção especial e a sua pintura de mehndi é a mais importante: muito mais rica em detalhes, chega a esconder em meio a tantas curvas, o nome do marido para que o mesmo o encontre depois do casamento. Além disso, essa mehndi deve ser a mais escura possível, que segundo a superstição indiana, quanto mais escura mais o marido vai amá-la (sim, vai, lembrem-se de que a maioria dos casamentos é arranjado e que os noivos mal se conhecem).

Vou dividir com vocês um pouco das minhas várias experiências com mehndi, afinal, foram no mínimo 5 vezes que eu apliquei. ;)

1) Aplicar... A mistura de henna já vem pronta em bisnaguinhas e pode ser comprada com 10 rúpias (umas chegam a custar até menos) em vendinhas por todos os lados. Dizem que existem três tons de henna, um mais avermelhado, um preto e um marrom. Eu infelizmente acho que não conheci ou não consegui diferenciar nenhum dos três... Mas enfim, na primeira etapa da aplicação de mehndi, o mais importante é justamente o artista que vai fazer o desenho... os designs são antigos e têm vários estilos... e cada artista tem um estilo um pouquinho diferente... mas isso é sempre na sorte grande... nos casamentos, em geral, são vários aplicando henna, devido ao número grande de convidadas... aí o que eu fazia era dar uma voltinha antes e tentar descobrir que artistas tinham feito as mais bonitas. (e ai vale uma dica: em geral os homens do norte da India aplicam melhor... da pra reconhecer que sao do Norte porque tem o olhinho mais puxado, mais carinha de chines). 

A duração pode ser mais rápida ou mais lenta... depende de quanta prática a pessoa já tem. Uma vez, peguei uma menina que estava começando e com certeza, ficamos mais de uma hora pra completar as minhas duas mãos. Já, quanto mais profissional, mais rápida e essa aplicação que pode ser e desenhos cheios de detalhes podem ficar prontos em menos de 10 minutos para uma mão.

2) Esperar... Feita a aplicação, agora tem que esperar pra henna, que formou uma casquinha - é uma pasta mesmo, que fica em cima da pele e é isso que vai pigmentando a pele. Pra tirar, só na base do descascando mesmo, porque se molhar, amolece a pasta e pode borrar todo o desenho. Então o tempo mínimo de henna na mão é uns 40 minutos, pra esperar secar e poder começar a descascar. Mas pra quem quer ver a henna escura mesmo e durar mais, quanto mais tempo for possível deixar a henna na mão, melhor. Além disse tem uns truques, tipo colocar limão, colocar um pano quente com cravos, aquecer a mão perto de um forno... bom, dessas técnicas todas a única que usei e gostei foi a de suco de limão com açúcar: o limão por ser ácido ajuda a liberar o pigmento da henna e o açúcar forma um melado que gruda a casquinha da henna na pele e facilita mantê-la por mais tempo. Bom, tinha gente que me dizia pra não lavar as mãos por 24 horas... Eu em geral, aguentava o dia inteiro e ia dormir com a henna... 24 horas mesmo, nunca consegui aguentar... depois, com a henna na mão, a gente fica impossibilitada de fazer muuuuuitas coisas. Imaginem ficar com aquela sensacao de unhas recem feitas por algumas horas... ihihihi

3) Descascar... Bom, agora que a henna ja ficou bastante tempo, da pra descascar... com as unhas ou qualquer coisa que raspe! 
Logo depois de raspar, a pintura aparece num tom mais claro que vai escurecendo durante o dia ate ficar bem escura.

4) Aproveitar...  Aplicada, seca e descascada a mistura, agora e a hora de aproveitar as maos decoradas... ;) A pintura bonita mesmo, com o tom forte e o design todo parelho dura uns 5 dias. Quanto mais se lavar a mao, menos dura... e a pintura vai saindo desuniformemente...  Mas o que vale mesmo e aproveitar o auge da pintura, colocar um saree, um bindi, algumas bijus e muuuitas fotos neste look indiano!

E as etapas em fotos das minhas maos ;)  :


Aplicar...


Esperar... (vejam a casquinha que se forma)


Descascar... Na verdade, essa e a pintura logo depois de descascar. 


E o tom mais escuro, agora e so aproveitar...



Posted by Picasa

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Shadi mehndi!!!

No momento da aplicacao:

E ja no casamento:

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Quem quer ser um milionário?

Quem ainda não assistiu, está esperando o que?

domingo, 28 de junho de 2009

Os exageros da novela

Já fazia horas que eu estava pra escrever sobre as verdades e mentiras que passam na novela. Em geral, o trabalho da Globo está bom, retrata a cultura indiana e mostra os principais custumes. Mas tem alguns absurdos que eu não sei de onde a autora se inspira: ontem foi demais, o Raj e a Maia, casal principal, acompanhados do Ravi e da Camila foram ao cinema. Bom, além de não calarem a boca durante o filme - coisa que indiano não faz, na verdade, quem não calava a boca éramos nós estrangeiros, porque sem legendas em inglês e com o filme em hindi, algum indiano que estava nos acompanhando era sempre obrigado por nós a traduzir a trama em tempo real (claro que depois de tantos filmes e alguns meses na Índia, eu já me virava pra entender sozinha). Mas o absurdo que apareceu foi no momento em que as dancinhas típicas de um filme de Bollywood começaram e todos no cinema começaram a dançar e alguns até levantaram pra fazer a performance!!!
Ridículo!!! Pobres dos indianos de às vezes parecerem tão bobos nessa novela!!! Mas essa de dançar no cinema foi DEMAIS!!!
Não estou acompanhando 100% a novela, mas com alguns capítulos que vi já dá pra comentar os principais absurdos. Não vou nem incluir a proximidade da Índia, Brasil e Dubai, além da falta completa de fuso horário (ligam de noite no Brasil e é noite na Índia também) e nem da facilidade de comunicaçao, onde todo mundo fala a mesma língua. Vamos nos focar mais na cultura e nos custumes:
- Roupas das brasileiras na Índia e das indianas no Brasil: tá certo que brasileira gosta de mostrar a perna e que aqui a gente pode usar de tudo, mas mesmo que uma brasileira sem noção chegue na Índia sem saber das diferenças, ela não ia aguentar muito tempo usando suas roupinhas decotadas e curtas só pelos olhares de todos os tipos que ia atrair. Bom, parece que isso não foi problema em Caminho das Índias: quando a Camila, a Leinha e a Júlia estavam por lá o figurino andava beeeem ousado. Po, roupas que eu nem usaria aqui no centro de Porto Alegre!!!!
Outro absurdo foi quando a Maia foi pro Brasil... todo empiriquitada de saree e outros apetrechos indianos. É verdade que muitas indianas quando viajam ainda usam saree, mas não uma indiana de uma família como a da Maia, com dinheiro e exposição internacional... por favor, ne?
- Dancinhas o tempo inteiro : várias pessoas já me perguntaram: "é verdade que eles dançam o tempo inteiro?" Não nego que os indianos gostam de dançar e que todo mundo dança bem, que nas festas e festivais tem muita dança, mas tipo assim, de dançar pra comemorar qualquer coisinha? Nunca vi!
- Decoração das casas : infelizmente na Índia, quanto mais rica a família é menos indiana é a casa... Impressionante, essas famílias com mais dinheiro e exposição internacional obtam por uma decoração mais ocidental. Acho uma pena, mas em todas as casas de indianos que fui, desde Mumbai, Delhi, Jaipur e Bangalore vi pouquíssimas coisas que lembrassem da cultura indiana... Ou seja, se a casa da família Ananda fosse na Índia mesmo não seria nada parecida com o que é. Até nos filmes de Bollywood é difícil ver uma casa assim. Mas eu não acho errado a novela mostrar a casa assim, afinal, mesmo que não usem mais tanto lá, tem que mostrar a cultura indiana aqui.
- Roupas dos homens e das mulheres : Pois é, as mulheres ainda usam saree e muito, mas famílias mais ricas infelizmente tem abandonado cada vez mais a cultura. Como já escrevi num post, quem usa saree todo o dia em geral são de castas mais baixas (falo isso das principais cidades, não sei como são em vilarejos no interior). Ou seja, as mulheres da família Ananda usariam mais Salwar kameez, aquela túnica com calça e lenço ou até mesmo roupas ocidentais. Já os homens, bah, na Índia inteira e em todas as classes acho que as roupas típicas só sobraram pra cerimônias importantes e casamentos: no dia a dia é impossível encontrar um homem vestido a caráter. Hum, quanto a senhores mais velhos, tipo o tal do chacha na novela, não sei... capaz de eles usarem roupas típicas sim.
- Empregados : típico de novela da Globo, os empregados são os melhores amigos dos patrões. No Brasil até dá pra aceitar, mas na Índia, isso é simplesmente impossível: existe um abismo entre os empregados e patrão, muitas vezes os empregados são muito mal tratados e não esperam nada mais do que isso. Em várias casas que fui, olhava pros empregados e tentava cumprimentar, mas eles nem deixavam nossos olhares se cruzarem, tamanha submissão. Então filhinha de empregada sendo criada com a filhinha da família e empregada cheia de segredinhos da patroa... não dá pra engolir.
Bom, mas também tem muitas coisas que a novela representa bem:
- Gerações e gerações debaixo do mesmo teto : sim, gente, é verdade que muitas famílias moram debaixo do mesmo teto... e isso até na cosmopolita Mumbai, até em pequenos apartamentos!!! Tá e nem estou falando das famílias pobres, que fazem isso também por falta de opção, mas de famílias mais ricas. No momento do casamento, a mulher passa a pertencer muito mais à família do noivo que a dela.
- Sogras megeras : já escutei e li muito sobre sogras bem malvadas. E o engraçado que ao invés da nora, na sua vez de virar sogra, ficar boazinha, ela fica tão malvada quanto com a nova nora...
- Tikhe, accha, chalo, dehko : muitas das palavrinhas em hindi que são faladas na novela fazem sim parte do vocabulário na Índia. (isso quando as pessoas falam em inglês mais ainda herdam palavras em hindi) Essas significam: está bem, ok ou bom, vamos e olhe. O único problema na novela é a pronúncia mesmo... hihihih
- Firanghi nem pensar : essa palavra significa estrangeiro e é verdade que muitas famílias não gostariam de ver seus filhos casados com estrangeiros... se já é complicado as vezes casar com um indiano de casta diferente, imagina alguém completamente fora da cultura indiana... Sei de muitas histórias de famílias que deixam seus filhos que estão no exterior até namorarem estrangeiras, mas na hora de casar, tem que encontrar uma indiana sim. (às vezes eles encontram uma indiana no país extrangeiro que estão)
Não consigo lembram de mais coisas... bom, espero comentários de quem assiste pra continuarmos essa discussão!

sábado, 20 de junho de 2009

Can't you see my shop, ma'am?

Foi revendo esse videozinho que coloquei abaixo que me lembrei que até então nunca escrevi sobre “comprar” na Índia. Pois é, embora a oferta seja absurda e os preços atraentes (se comparados com preços europeus e até brasileiros), essa tarefa não é nada fácil.

Primeiro porque o que parece ser uma vantagem acaba por se tornar um incomodo: é tanta coisa, de tantas cores, modelos, materiais (como eles mesmos dizem: different style, different models, different different ma’am! ) que a gente cansa os olhos muito antes de encontrar o que realmente queremos comprar. Depois, ao encontrar o que a gente quer comprar, na maioria das vezes tem a barganha... Bom, é claro, que basta ver uma carinha estrangeira pra eles tascarem o preço (mas isso não quer dizer que os indianos também não pechinchem entre eles) e aí haja paciência e jogo de cintura pra chegar num acordo.

Em Mumbai, onde a barganha rola solta é em Colaba, uma rua no sul da península com vários tipos de bugigangas: bolsas, pulseiras, lenços, blusinhas... Mas Jaipur, a capital do Rajastão – estado mais rico em artesanatos da Índia – coloca Colaba no chinelo: todo o centro de Jaipur, que fica dentro do cidade murada, é REPLETO de lojinhas e a variedade e qualidade das coisas é muito melhor. Foi justamente quando estávamos em Jaipur que eu e a Salma nos inspiramos em fazer o vídeo, tamanho o assédio diário pra comprar porcarias nas lojas de Jaipur. Lá os vendedores ficam na rua e quase nos puxam pra entrar na loja... Basta um olhar se cruzar e eles já acreditam que é uma abertura... putz, ai sim, não sossegam até você entrar na loja. Aí mesmo pedindo uma colcha , eles mostram colchas, mas também capas de almofada, blusas, sarees... o que tiver na loja!!! E basta a gente tocar num desses artefatos (tipo, estava olhando só as colchas, mas de repente mostra o menor interesse por sarees) lá vem eles com mais different different styles. É muito engraçado, as vezes pra não perder o freguês, eles nos fazem esperar e chegam a trazer coisas de outras lojas... Um lava a mão do outro.

Bom, e o preço? Isso varia muito de cada vendedor... tem uns que são mais sérios, cobram um preço próximo do real. Tem outras que avacalham e cobram 3 , 4 vezes mais. Aí vai da consumidora aqui usar seu poder de negociação. Pra evitar ser influenciada pelo vendedor, antes de comprar a peça, eu calculava com base na minha experiência de Índia e no meu bolso quanto eu pagaria pela peça. Aí não importa se ele falasse 1000 ou 300 que eu ia barganhar pra chegar nas minhas 150 rupias (no caso de uma luminária).
Em Colaba, como a maioria das lojinhas é tipo camelô, eles não podem usar tanto de outros artifícios como em Jaipur. Lá, eles nos oferecem chá, água, qualquer coisa pra deixar o cliente feliz. Quanto mais confortável a gente parece que está , mais produtos eles nos mostram...
Mas e a comunicação, como é? Essa é a parte engraçada... claro que eles falam inglês, afinal, são vendedores (em Jaipur falam até outras línguas... tipo francês, espanhol... o que não fazem pra vender, né?). Mas o inglês é precário e pra dar ênfase, eles repetem muito as palavras: Ma’am, come to see my shop, ma’am... I make good price, good price, ma’am! Very good price!
E isso sem contar os termos que são mais que padronizados, usados por todos pra justificar os preços ou pra nos fazer achar que estamos fazendo the Best deal ever.
Quando vão dar o preço dizem: Ma’am, you my first customer, so first customer good luck, so good price for you ma’am.

Era tão engraçado, quase todos vinham pra nós com essa de “first customer”. Eles dizem que o primeiro cliente traz boa sorte... e pra muitos essa crença é verdadeira, já vi muitos motoristas de rikshaw de manhã cedo (ou seja, provavelmente, primeiro cliente) fazendo todo um ritual com o dinheiro que tinham recebido.
E as qualidades do produto? Bom, além de tudo ser good quality, tudo, tudo mesmo eles dizem que é hand work. Coisas que assim, escancaradamente eram feitas à máquina, eles vinha com essa de hand work.

Bom, e na hora de baixar o preço?

No , ma’am, not possible, like this no profit, no profit, ma’am, this is below my cost.

Ah, sem contar quando eles concordavam com o preço e diziam: ok, ma’am, Just for you, ma’am...

Já para os clientes, uma estratégia interessante, quando vê que o vendedor não quer mesmo baixar a oferta, é ameaçar sair da loja... geralmente eles vêm atrás, e se não concordam de cara com o preço proposto, oferecem outro desconto.

No fim, comprar na Índia que parece tão irresistível acaba por tornar-se uma tarefa e tanto... Mas em momento nenhum os vendedores se tornam agressivos, muito pelo contrário, as vezes até terminava em risada... Uma vez com um motorista de rikshaw, antes mesmo dele dizer o porquê do preço dele eu falei : accha, fixed rate, standart cost... e ele e mais outros começaram a rir (afinal, sempre usavam essa desculpa).

Acho que o vídeo traduz um pouco tudo isso que escrevi. A princípio queríamos filmar numa loja mesmo, mas aí acabamos por filmar no quarto que estávamos em Jaipur com todas as coisas que compramos... Espero que vocês entendam meu inglês com sotaque!
Obs: no filme, eu falo de italian coffee, porque um dos vendedores chegou a nos oferecer italian coffee, juro!! Não é de se matar de rir?

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Hindustani Chale!

Esse video é bárbaro, recebi de um amigo, num desses "fwd" que todo mundo manda pra todo mundo, antes de viajar pra Índia. Vale a pena checar...
(sabe que eu até entendi umas palavrinhas na música? hum chalo, Hindustani chale - vamos lá, Índia vamos lá! )


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Mujhe hindi bolo!

A chance da frase acima conter erros é grande. Mas a chance de um indiano entender o que eu quis dizer, é enorme. Isso era uma das coisas que mais me agradava em Hindi: embora a gramática não seja tão simples, dava pra brincar com a língua como se ela fosse um quebra-cabeça, só juntando pecinhas. Primeiro, o número de palavras usadas em inglês em hindi é enorme, por exemplo, music, ice cream, meeting, etc. Então se eu entro num rikshaw e quero que ele ligue o som, é só perguntar: music he?
Ou seja, com algumas palavras eu já me virava bem. Uma pena eu não ter dedicado mais tempo a aprender, é uma das coisas que mais me arrependo ao pensar que voltei sem falar hindi. Digo isso porque sei o número de conversas que perdi com pessoas simples que não falavam inglês. Seguido elas se impressionavam com duas ou três palavras que eu falava e já queriam continuar o papo... Na maioria das vezes, eu só fingia que entendia, balançava a cabeça e repetia accha (ok, bom).
Mas o meu hindi deu pro gasto: além de me ajudar em muitas barganhas (nehi boss, bohut mengha he! - não, chefe - gíria usada em Mumbai - está muito caro!), o fato de eu saber alguns principais verbos me abriram muitos caminhos: dava pra pedir algo em hindi, por exemplo, pani chahiye (quero água), falar com os rikshaw wallahs, Goregaon Chalega? (vamos para goregaon?) e assim vai. Claro que em momento nenhum passei por indiana ao falar hindi... com certeza, meu sotaque me entregava! ( O Navdeep disse que eu tinha voz de criança quando falava... hihih)
Bom, mas essa discussão sobre o meu hindi, vale pra falar de algumas palavrinhas e termos que aprendi lá.
(Pra quem assiste a novela, muitos termos eu nem tinha escutado antes, tipo Bhagwan ki lihe! - por deus! - ...)
Arrey - uma interjeição, díficil explicar exatamente o significado. Mais parecido com "puxa!". Geralmente acompanha bhai (se chama todo mundo de bhai, tipo rikshaw wallah, os comerciantes, etc - é uma maneira carinhosa e educada de chamar alguém), como em Arrey, bhai! .
Wallah - significa alguém que faz certa atividade: os rikshaw wallahs são os motoristas de rikshaw, os chai wallahs são os que fazem e servem chá, os dabba wallahs são os que entregam as marmitas e assim por diante.
Boss - usando no Mumbai hindi, hindi falado em Mumbai que dizem ser um pouco distinto e cheio de gírias, da mesma maneira que o Bhai, da pra chamar alguém de boss.
Right lena, left lena - como expliquei, muitas palavras do inglés são usadas no hindi. Por exemplo, tome a direita, tome a esquerda.
Bus! - basta, enough! Muito usado, tanto pra falar pra alguém parar de te incomodar (tipo um pedinte, um vendedor) ou pra dizer pro rikshaw parar (sim, usa-se mais "basta" do que "pára!" , Rucko).
Mendhi - henna.
Me tumse piar karte hum - eu te amo.
bolo, bolo! - fala, fala!
me tik hu - eu estou bem.
tik he - usado no sentido de ok, mas significa "está bem" .
Bharat - Índia.
Chawl - quarto onde uma família inteira mora junta e que fica numa espécie de cortiço. Muito comum em Mumbai, cidade em que oportunidades sobram e espaço falta.
Pandit - sacerdote. Para chamá-lo, usa-se Panditji, uma forma de respeito.
ji - pode ser usado no final de um nome ou até nome próprio, como Arjunji, e é uma forma respeitosa de chamar alguém. Aí vai: papaji - ( em geral usado para senhores mais velhos), sirji (no sentido de senhor).
Samosa, Dahl, Roti, Aloo, Murgh, Chana - nomes de comida. Bom, se começar a desenvolver esse assunto vou longe, já que com a maioria dos menus em hindi (mas escritos na forma latina) fui obrigada a aumentar o meu vocabulário nessa área. Traduzindo as palavras que escrevi: pastel com recheio de batata, cebola e condimentos; sopa de lentinha amarela; pão tipo indiano; batata; galinha; grão de bico.
Haveli - castelo.
Bindi, Saree, Choli, Salwar Kameez, Dupata - entrando na parte dos adornos e roupas também dá pra ir longe, então prefiro ser mais breve aqui. Tradução: adorno tipo terceiro olho, traje indiano, pulseira, tunica com calça larga e xale.
Mengha, Sasta - caro, barato.
eq, do, tin, char, pach, che, saat, at, nou, dãs - números de um a dez.
Hum, não consigo lembrar mais nada agora para adicionar no repertório. Assim que lembrar, escreverei!