sábado, 20 de junho de 2009

Can't you see my shop, ma'am?

Foi revendo esse videozinho que coloquei abaixo que me lembrei que até então nunca escrevi sobre “comprar” na Índia. Pois é, embora a oferta seja absurda e os preços atraentes (se comparados com preços europeus e até brasileiros), essa tarefa não é nada fácil.

Primeiro porque o que parece ser uma vantagem acaba por se tornar um incomodo: é tanta coisa, de tantas cores, modelos, materiais (como eles mesmos dizem: different style, different models, different different ma’am! ) que a gente cansa os olhos muito antes de encontrar o que realmente queremos comprar. Depois, ao encontrar o que a gente quer comprar, na maioria das vezes tem a barganha... Bom, é claro, que basta ver uma carinha estrangeira pra eles tascarem o preço (mas isso não quer dizer que os indianos também não pechinchem entre eles) e aí haja paciência e jogo de cintura pra chegar num acordo.

Em Mumbai, onde a barganha rola solta é em Colaba, uma rua no sul da península com vários tipos de bugigangas: bolsas, pulseiras, lenços, blusinhas... Mas Jaipur, a capital do Rajastão – estado mais rico em artesanatos da Índia – coloca Colaba no chinelo: todo o centro de Jaipur, que fica dentro do cidade murada, é REPLETO de lojinhas e a variedade e qualidade das coisas é muito melhor. Foi justamente quando estávamos em Jaipur que eu e a Salma nos inspiramos em fazer o vídeo, tamanho o assédio diário pra comprar porcarias nas lojas de Jaipur. Lá os vendedores ficam na rua e quase nos puxam pra entrar na loja... Basta um olhar se cruzar e eles já acreditam que é uma abertura... putz, ai sim, não sossegam até você entrar na loja. Aí mesmo pedindo uma colcha , eles mostram colchas, mas também capas de almofada, blusas, sarees... o que tiver na loja!!! E basta a gente tocar num desses artefatos (tipo, estava olhando só as colchas, mas de repente mostra o menor interesse por sarees) lá vem eles com mais different different styles. É muito engraçado, as vezes pra não perder o freguês, eles nos fazem esperar e chegam a trazer coisas de outras lojas... Um lava a mão do outro.

Bom, e o preço? Isso varia muito de cada vendedor... tem uns que são mais sérios, cobram um preço próximo do real. Tem outras que avacalham e cobram 3 , 4 vezes mais. Aí vai da consumidora aqui usar seu poder de negociação. Pra evitar ser influenciada pelo vendedor, antes de comprar a peça, eu calculava com base na minha experiência de Índia e no meu bolso quanto eu pagaria pela peça. Aí não importa se ele falasse 1000 ou 300 que eu ia barganhar pra chegar nas minhas 150 rupias (no caso de uma luminária).
Em Colaba, como a maioria das lojinhas é tipo camelô, eles não podem usar tanto de outros artifícios como em Jaipur. Lá, eles nos oferecem chá, água, qualquer coisa pra deixar o cliente feliz. Quanto mais confortável a gente parece que está , mais produtos eles nos mostram...
Mas e a comunicação, como é? Essa é a parte engraçada... claro que eles falam inglês, afinal, são vendedores (em Jaipur falam até outras línguas... tipo francês, espanhol... o que não fazem pra vender, né?). Mas o inglês é precário e pra dar ênfase, eles repetem muito as palavras: Ma’am, come to see my shop, ma’am... I make good price, good price, ma’am! Very good price!
E isso sem contar os termos que são mais que padronizados, usados por todos pra justificar os preços ou pra nos fazer achar que estamos fazendo the Best deal ever.
Quando vão dar o preço dizem: Ma’am, you my first customer, so first customer good luck, so good price for you ma’am.

Era tão engraçado, quase todos vinham pra nós com essa de “first customer”. Eles dizem que o primeiro cliente traz boa sorte... e pra muitos essa crença é verdadeira, já vi muitos motoristas de rikshaw de manhã cedo (ou seja, provavelmente, primeiro cliente) fazendo todo um ritual com o dinheiro que tinham recebido.
E as qualidades do produto? Bom, além de tudo ser good quality, tudo, tudo mesmo eles dizem que é hand work. Coisas que assim, escancaradamente eram feitas à máquina, eles vinha com essa de hand work.

Bom, e na hora de baixar o preço?

No , ma’am, not possible, like this no profit, no profit, ma’am, this is below my cost.

Ah, sem contar quando eles concordavam com o preço e diziam: ok, ma’am, Just for you, ma’am...

Já para os clientes, uma estratégia interessante, quando vê que o vendedor não quer mesmo baixar a oferta, é ameaçar sair da loja... geralmente eles vêm atrás, e se não concordam de cara com o preço proposto, oferecem outro desconto.

No fim, comprar na Índia que parece tão irresistível acaba por tornar-se uma tarefa e tanto... Mas em momento nenhum os vendedores se tornam agressivos, muito pelo contrário, as vezes até terminava em risada... Uma vez com um motorista de rikshaw, antes mesmo dele dizer o porquê do preço dele eu falei : accha, fixed rate, standart cost... e ele e mais outros começaram a rir (afinal, sempre usavam essa desculpa).

Acho que o vídeo traduz um pouco tudo isso que escrevi. A princípio queríamos filmar numa loja mesmo, mas aí acabamos por filmar no quarto que estávamos em Jaipur com todas as coisas que compramos... Espero que vocês entendam meu inglês com sotaque!
Obs: no filme, eu falo de italian coffee, porque um dos vendedores chegou a nos oferecer italian coffee, juro!! Não é de se matar de rir?

2 comentários:

andrea disse...

Muuuito engracado. Eles falam assim mesmo!!!

Alexandre Aguiar Dedavid disse...

O que faz um intercâmbio na vida de uma pessoa! Até atriz virou! hehehe! Comediante! Muito engraçado!

Beijo! :)