quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

As varias "Indias"

Foto: Eu e Mami curtindo um por do sol em Mumbai, Marine Drive
Ontem de madrugada meus pais embarcaram de volta ao Brasil, depois de mais de 15 dias de uma experiencia bastante intensa na India. Eu ja tinha percebido que um pais se revela distinto para cada pessoa e que isso pode depender de muitas coisas: da pessoa em si, da estrutura da viagem ou ate mesmo da sorte. Os exemplos que conheco sao claros: tive uma viagem fantastica na Turquia, apos uma amiga suica dizer que nao fosse para la de jeito nenhum – baseada na experiencia dela; e tive uma viagem super tensa no Marrocos e meses depois meus pais voltaram encantados do mesmo pais.

Claro que isso eh mais comum em paises de terceiro mundo, afinal, eh mais dificil discordar que a Suica eh limpa e organizada, que a Franca tem restaurantes e lojas otimas, etc. Entao, obvio que na India nao poderia ser diferente...

Primeiro meu erro: nao sei como, nao consegui transmitir a mensagem para os meus pais de como era a cidade de Mumbai; baguncada, caotica, suja, barulhenta, lotada... A cidade eh tao caos que ate os indianos de outros lugares se chocam com ela. Eu tambem me choquei, mesmo depois de chegar aqui mais que preparada, depois de ja ter lido e me informado muito. Mas de alguma maneira, esse caos nos envolve, em meio de pessoas amigaveis, bazares interminaveis, barzinhos, Bollywood, etc, que cheguei a escrever um post “Mumbai Meri Jaan (minha vida)” ha pouco tempo atras.
Entao claro que foi aquele “choque cultural” para os meus pais... Andar na rua aqui eh um desafio constante, desvia buraco aqui, pessoa ali, sujeira la... e pra quem e turista, em certos lugares ai tem os fatores: desvia o pedinte aqui, desvia o vendedor la, desvia o indiano espertinho aqui (esses que vem oferecer ajuda, depois comento mais). Eu ja nem sinto mais isso, ja virei indiana e me acostumei a andar no caos... Para os meus pais e meu irmao essa ja nao foi uma experiencia facil... Acho que o azar contribui dessa vez, porque caminhando em Colaba, zona sul de Mumbai e um dos lugares mais nobres da cidade, em um dia vimos um numero de mendigos igual a soma de numeros de mendigos que vejo em um mes.
Fator complicante 2: Comida! Vaaaarios estrangeiros aqui tem problema com a comida, muito apimentada, muito temperada, muita empapada, pouca carne etc... Mas, mais uma vez, eu alem de acostumada, amo e saboreio a comida daqui... E tcharam: minha mae nao gostou... achou tudo com gosto de cominho, que nao dava para diferenciar um prato de outro... Meu pai e irmao acho que gostaram, aceitaram, mas nao concordavam em comer em qualquer restaurante... E Mumbai, ou melhor, a India ate tem restaurantes bons e ajeitadinhos, mas acha-los eh uma tarefa ardua... Entao outro grande problema sempre foi a hora de comer...
Bom, e foi assim que comecou a nossa viagem... e tambem nao muito planejada, ja que depois dos ataques terroristas ficou-se uma indecisao no ar, nao sabiamos se seria seguro viajar de aviao, ir pra tal lugar, etc, que deixamos tudo pra resolver na hora.
Voamos para Delhi no dia 31 e fomos recebidos com uma intensa neblina, poluicao misturada com nevoa. Na capital indiana nao tivemos muita mais sorte que em Mumbai; na noite do dia 31 nao conseguimos nem pegar um taxi ; problema um tanto comum na India que praticamente so tem riquixa. Em Mumbai o mesmo problema acontece, porque quem tem um pouco mais de dinheiro tem carro e motorista e quem nao tem prefere pagar menos e pegar um riquixa ao inves de taxi. Entao em Mumbai, tambem eh impossivel achar um taxi na rua, so riquixa... De Bandra para o sul os riquixas sao proibidos e eh possivel encontrar taxis aos montoes (mas nao esperem muito dos taxis, carros tao velhos e acabados quanto os riquixas!).
Mas voltando ao problema de Delhi: 31 a noite, a gente com fome, frio e nada de achar um taxi na rua (isso que estavamos numa zona nobre da cidade)... a solucao foi meter 4 num riquixa!!! (cabem tres...) Na volta do restaurante para o hotel, o mesmo problema, nao conseguimos achar um taxi nem no centro comercial que estavamos... (acho que o fator 31 agravou a situacao). La vamos nos, 4 no riquixa... E em Delhi tem o fator pechincha, que tem que negociar o preco com o motorista antes, mas com medo de perder a “solucao de voltar pra casa”, nem me animava muito e acabada aceitando precos altos para corridas curtas (150 rupias o que em Mumbai custaria 50 rupias).
A visita para Agra e o Taj Mahal fizemos no dia seguinte, dia 1. Pra variar, o azar ajudou: com uma tarifa de 10 rupias para entrar – enquanto nos estrangeiros pagamos 750 rupias – dar uma visitinha no Taj Mahal no primeiro dia do ano era um bom passatempo para qualquer indiano. Entao la estavam familias e mais familias, criancas, idosos, maes, tios,amigos, etc etc etc... E parece que eu to escrevendo de sacanagem, mas eh isso mesmo, a impressao que da eh que eles entao so pra se aglomerar, porque foram raros os que eu vi admirando o monumento... alem de se aglomerar, eles entram para encher o saco de turista! Hihih Parte da hospitalidade e curiosidade indiana, muitos vem e perguntam de onde a gente eh, etc, e alguns vem e pedem pra tirar foto com a gente.
E foi eu deixar tirarem a primeira foto que a fila nao acabou mais: desde familias a grupinhos de amigos homens, vinha gente me pedir pra tirar foto com eles... No inicio eh engracado, me senti lisonjeada, astro de Bollywood, mas depois de um tempo, cansa!!! Os caras ainda faziam questao de tirar uma foto em grupo depois um por um sozinho comigo... argh!! Tive que me tapar, fugir, sei la!
Voltando ao Taj Mahal, o monumento em sim, eh bonito mesmo, mas nao sei se por causa do meu “humor”, nao achei nada extraordinario. Tambem, dificil admirar qualquer coisa naquele “formigueiro de gente” como disse a minha mae.
A continuacao da viagem foi seguir para Jaipur, capital do Rajastao. Eu ansiava por esse momento, quer dizer, ansiava antes da viagem comecar, quando vivia a minha vidinha em Mumbai. Jaipur eh o centro do artesanato na India, onde acontecem a maioria das exportacoes de artigos de decoracao, tapetes, roupas, joias... Entao nao via o momento de conhecer a mina de ouro, poder comprar tudo a preco de banana! Alem disso, Jaipur eh cheio de palacios antigos de marajas, fortes, que tambem atraem a minha atencao.
Mas naquele clima todo da viagem, quando finalmente estava em Jaipur nao fiquei nem um pouco animada. Por sugestao minha, pegamos um tour da agencia do governo local que levava ate os principais pontos turisticos de onibus (alguns sao distantes da cidade, como 10, 15 km). Porem foi um erro fatal: fomos em quase TODOS os monumentos da cidade e tinhamos em torno de uma hora pra cada um. Primeiro que depois do segundo forte, tudo ja parece igual. Depois que alguns monumentos nao tinham graca nenhuma. E terceiro: enquanto os indianos continuavam pagando a palhacada de 10, 20 rupias (40 – 80 centavos) “os bonitos aqui” tinham que pagar 100, 200 e ate 300 rupias por cabeca. Niguem merece!!!
E o meu street shopping na capital do artesanato da India, sem a compania certa, foi tambem pras cucuias... ate tentei arrastar meus pais um dia pra cidade antiga e pra olhar umas lojinhas, mas tudo era sem graca pra eles (na real eles estavam cansados, nao gostaram da ideia de barganhar e comprar no meio de uma bagunca) que em seguido eu tambem perdi o saco. Pra salvar o dia, gracas a uma dica do Sandeep, que estou muitos anos em Jaipur, fomos numa loja grande, mais “chique” de Jaipur, onde consegui, finalmente, fazer meus pais passarem o cartao de credito. ;)
De Jaipur, o Gabriel, meu irmao se despediu da gente. Eu voltei pra minha rotina em Mumbai e meus pais foram passar alguns dias num resort em Goa. Foi um alivio pra mim reve-los dias depois morenos e contentes da experiencia que tiveram; pelo menos nos ultimos dias curtirao a India e seu mar com ondinhas, areias brancas, brisa agradavel e conforto de um hotel 5 estrelas.
Fico chateada em pensar que a minha India eh diferente da India que meus pais e meu irmao viram. A minha India colorida, com comida deliciosa, um paraiso para as compras, um mar de culturas e costumes diferentes, com indianos simpaticos e prestativos, festas divertida nao eh a India baguncada, suja, sem infraestrutura , barulhenta, com comida muito condimentada e estressante que eh para eles. Mas e o que foi desta vez que contribui pra essa experiencia deles? Eles mesmos? A estrutura da viagem? O azar? Nao sei, talvez tudo, talvez nao... so sei que a minha paixao pela India continua acesa como sempre. ;)

6 comentários:

Anônimo disse...

minha cara Cora,
necessito sua ajuda para conseguir o Email do sujeito abaixo:
Directorate of Technical Education, Maharastra State
3, Mahapalika Marg, Mumbai-400 001

SANDESH SATISH HEREKAR

Tenho um equipamento e ele pode ser o contato para conserta-lo.
Grato,
Sergio Gracia
clinolhos@italnet.com.br

morrismonch disse...

Uy pues! Como dices tú Corita, cada quién vive los viajes de forma diferente. Tal vez añadiría que es MUY diferente conocer un país viajando como "turista por pocos días", a conocer un país por "haber vivido en él por mucho más tiempo", ¿no crees?

Domartello disse...

Obrigado pela oportunidade de ler tuas experiências de viagem.Desejo tudo de bom, um forte abraço bjos
Carlos

Cora disse...

Muito boas as suas observações, Cora (que gozado, chamar de Cora um bípede de verdade -- a outra Cora que eu conheço é uma capivara no Bosque da Barra que atende pelo nome, linda!).

Na minha experiência, viagem é sempre um barato individual -- e é por isso que eu praticamente só viajo sozinha, ainda mais para destinos, digamos, exóticos. Entra de tudo no mix, da vontade que você tem de gostar do lugar, aos cheiros, gostos, acontecimentos.

Fico muito feliz em saber que você gosta daí. A sensação que eu tenho é que vou gostar muito -- tenho um fraco por confusões generalizadas, e adoro qualquer lugar que dê boas fotos.

Muito prazer e vou voltar aqui, com certeza.

Uma beijoca!

Anônimo disse...

Muito engracado!Um presente pra gente !

Déia disse...

Amiga...Amei este texto...Força...Beijo