segunda-feira, 4 de maio de 2009

A chegada... by Agente M

Recebi um email de um amigo fiel leitor do blog e tambem com quem eu ja muuuuito conversei sobre os "problemas" da vida. Ele resolveu escrever sobre como eu estaria me sentindo na chegada ao Brasil, montando um quebra cabeca entre leituras do blog, emails e conversas anteriores, ainda no Brasil. O resultado foi otimo que nao resisti e resolvi publicar antes de escrever a versao real, que por sinal, esta parecidissima (so nao existe nenhum Marcelo! juro!!!!).

Curtam ai. ;)

Senhoras e senhores dentro de mais alguns instantes estaremos pousando no aeroporto Internacional de Guarulhos, por favor retornem seus acentos para a posição vertical......

Cora desperta com o aviso da aeromoça. Foi uma longa viagem e ela praticamente não conseguiu dormir nas primeiras horas de vôo.  A sensação é estranha, o tempo parece ter encolhido e alguns segundos são necessários para que ela  perceba  onde está. Toda a emoção da partida agora parece ter ficado distante. Foram só algumas horas mas a força da realidade já começa a tomar forma e os pensamentos agora estão focados no futuro. A vista da cidade lá embaixo dá uma sensação de poder e ao mesmo tempo de vazio. Os pensamentos são confusos. Os oito meses que passaram parecem ter sido oito anos.  Como uma pessoa pode mudar tanto em tão pouco tempo?  A convivência num país estranho geralmente é difícil. As diferenças entre a cultura indiana e a brasileira são enormes mas Cora não teve problemas de adaptação.  Em poucas semanas já tinha uma rede considerável de amigos e estas amizades deram a ela o apoio e o caminho para uma adaptação total.  Certas pessoas tem o dom de saber cativar as outras e isso Cora faz com maestria. 


Alguns poderiam dizer que há um pouco de interesse neste jeito de ser mas o que é uma amizade senão uma troca constante?  É claro que Cora também tem muitos amigos no Brasil mas porque agora eles parecem tão distantes? Tão sem sentido. Será que eles mudaram? É claro que sim, todos mudam. Não, nem todos. Talvez não haja estímulos para todos....melhor,  talvez nem todos percebam os estímulos. Por mais que neguem os estímulos estão sempre presentes. Alguns são imunes a eles. Outros são tão sensíveis que não conseguem definir qual o estímulo a seguir. Poucos sabem identificar o estímulo certo na hora certa. Cora sabe. Isso foi determinante na maneira como ela percebeu e se adaptou à nova realidade.  Realidade, este é o próximo desafio. A cada dia, a cada hora, a cada segundo uma nova realidade. Não, não me digam que os oito meses que passaram não foram reais. Foram intensos, foram decisivos, foram iluminadores, foram reais. Em oito meses Cora treinou sua habilidade de decidir. E é exatamente isso que ela deve fazer agora, depois, sempre.


Por favor verifiquem se pegaram todos os seus pertences...passageiros com conexões para outros estados procurem pessoal em terra...


13:15.  O aroma de café no saguão do aeroporto é o atrativo do momento. Ainda faltam 4 horas para o vôo para Porto Alegre e um típico pão de queijo brasileiro é o ideal pra matar a saudade da gastronomia local. Cora se adaptou bem à comida de Mumbai mas os cheiros e sabores da comida brasileira ficam entranhados no cérebro. Tudo o que ela quer agora é obedecer aos instintos mais primitivos e deixar um pouco de lado as pragmáticas decisões e cobranças sobre o futuro. Mas pouco tempo depois seu olhar está distante, focado no infinito e só é interrompido por uma imagem conhecida refletida no espelho da cafeteria.  Marcelo, moreno claro, traços marcantes e  olhos negros passaria muito bem por um típico indiano.  Estranha coincidência encontrar em São Paulo um antigo colega do ensino secundário que era o único da turma que destoava dos típicos filhos de imigrantes italianos, loiros e de olhos azuis.  Cora e Marcelo foram colegas durante dois anos consecutivos mas nunca chegaram a ser realmente amigos. Havia uma espécie de respeito mútuo pois os dois se destacavam dos demais alunos. Sempre eram deles as melhores notas. Cora se vira e procura por Marcelo mas nada vê. Teria sido uma impressão? Afinal foram oito meses vendo indianos.


- Olá Cora, há quanto tempo hein? (Para a surpresa de Cora ele havia passado por trás e sentou ao lado dela)  


–Oiiii, mas que legal te encontrar aqui, depois de tantos anos. Indo ou vindo?


-Indo. Estou indo para os EUA.  A matriz da firma que eu trabalho em Porto Alegre faz periodicamente uma avaliação global dos funcionários da filiais  e eu fui escolhido pra trabalhar lá. Bem, a princípio vou ser uma forma de trainee mas acho que logo passo a Engenheiro Senior. Tu sabias que fiz engenharia, né? Bem, eu sei que te formaste a pouco também. Tenho um amigo que te conheceu na Copesul e me falou que trabalhaste lá. Mas e aí?  Agora é minha vez de perguntar. Indo ou vindo?


_Bah, nem te conto. Okay (com sotaque indiano) conto sim. Tô voltando pra província, ai, ai. Estive na Índia nos últimos oito meses. Em Mumbai, mais precisamente. Trabalhei lá em duas firmas. Uma no ramo farmacêutico e outra que atua na área de consultoria para empresas que querem aprender a serem mais “verdes”. Agora sou uma expert em tecnologia verde e emissões globais, ou melhor, emissões zero  hihihi. Agora no finzinho aproveitei pra viajar um pouquinho  pelos arredores......


_Ah,ah, eu sei, eu sei. Andei dando uma olhada no teu blog. Bahh, eu queria ter feito algo parecido. Acho que vai ser legal nos EUA mas certamente não vai ter o mesmo “colorido”. Mas e agora já tens idéia do que vais fazer em Porto Alegre ou sei lá onde?


_Bem, primeiro tenho que me organizar. Mentalmente, eu digo. É uma salada de frutas de culturas....


_Ei, eu vi isso no teu blog!!!!


_ É, escrevi sobre isso...mas é assim, é muita coisa na cabeça pra uma Cora só. Aprendi um monte com esta viagem. Certamente não serei mais a mesma pessoa.


-Dá pra ver, pelas tatuagens com hena nas mãos....


_Dããhh....okay ( ainda com sotaque indiano) tu sabes é uma realidade diferente da nossa, te faz pensar e reavaliar os nossos valores....o que vai por dentro, sabe?


_Barbaridade, quanta filosofia!!!  Tô brincando, estou vendo que estás cansada e estou tentando te animar. Mas olha só, faz tempo que não falamos. Não sou mais o cara certinho do tempo do colégio. Claro que não descuidei do estudo mas peguei mais leve, não me cobrei tanto e deixei um pouco pra sorte, pra ver no que ia dar. Bem, está dando certo por enquanto. Tive um problema com os meus pais. Eles queriam que eu me preocupasse mais, me dedicasse mais....mas provei pra eles que eu estava certo.


-Hiiiii, eu acho que vou passar pela mesma coisa. Já andei recebendo umas indiretas... Tipo que agora tenho que voltar pra realidade, que a brincadeira acabou e por ai vai... Mas o que eles não entendem, ou entendem e não querem admitir, é que toda a experiência é valida...Eu estava filosofando sobre isso agora há pouco. Essa diferença toda de culturas aproxima muito mais do que afasta. Acrescenta um monte....a gente entende melhor os outros e isso vai ajudar a decidir...sei lá....em qualquer nivel. Já pensou se arranjo um emprego tipo Secretária de Estado do governo americano, hihihi,  vou precisar conhecer os outros povos, culturas. Bah, não nos vemos há tanto tempo e eu aqui viajando na filosofia.


_ Nada....eu também tenho meus momentos filosóficos. Mas olha, lembrei duma coisa, uma cara lá da firma tava falando em uma vaga pra especialização em economia global, voltada pra gestão petroquímica, não sei direito......


( Vôo American Air Lines 1354, portão 3M)


-Bah, é o meu vôo….tenho que ir. Olha, legal te ver de novo...depois te escrevo, pego o endereço no blog....tchau....


-Ah, tá, ta, vai lá, senão vais perder o vôo. Espero te ver de novo......tchau....


Cora se dá conta que também tem que seguir viagem e se dirige para o embarque. Agora, mais do que nunca, os pensamentos fervem. -Já não bastava uma dúvida após a outra e agora me aparece esse cara.....quase um indiano...and handsome...hihihihi      "


Um comentário:

LucianaM disse...

Oi Cora, muito boa a tal carta! Vc tem certeza que o Marcelo não existe? Nem ninguém se candidatando ao posto?
Abç e bom retorno,
Lu